NAS HORAS DE SOLIDÃO
Me sentindo solitário
De casa me retirei Me meti de mata adentro E num roçado passei Na margem de um riacho Numa pedra me sentei. E no sopé de um morro Nascia ali um riacho As águas iam descendo Rolando de morro abaixo Vi uma formiga lutando Contra as águas do riacho. Ela queria subir E continuava descendo Lutando desesperada De pedra em pedra batendo Eu corri e fui salvá-la Estava quase morrendo. Numa réstia de sol Deixei-a, a se aquecer. E fiquei observando O que ia acontecer Se ela escaparia Ou se iria morrer. As águas desciam forte Sobre as pedras rolando Fazendo sulcos na terra Raiz de pau arrancando E sobre as águas calmas Balseiros se acumulando. Lembrei-me então da formiga E lá estava ela a correr Quando ela me viu parou Como para agradecer Depois saiu devagar Sob as folhas a se esconder. Eu voltei para a pedra Onde sentado eu estava Quando vi um beija-flor Que de flor em flor bicava Tirando delas o mel Com que se alimentava. Caminhei mais um pouco E fiquei observando Num poço de águas limpas As piabinhas nadando De um lado para outro Aos cardumes se juntando. E margeando o riacho Devagar fui caminhando Ouvi o murmúrio das águas Como que cantarolando Senti a brisa suave Os meus cabelos soprando. Senti neste momento Minha alma se renovar E suspirando bem fundo Mandei as mágoas pro ar E agradecendo a Deus Uma prece fui rezar. E esta minha oração Com cânticos se misturava Com a voz dos passarinhos Que aquela tarde enfeitava Matou toda a solidão Que no meu peito morava. Já era tarde e eu vi A noite se aproximando Ouvi o piar da coruja E a curicaca gritando E até a mãe da lua Já estava assoviando. O grito da siricora O gemer da juriti E o cantar assombrado Do medroso bem-te-vi E o roncar da cigarra Que nós chamamos zumbir. E o véu da noite caiu Com tremenda escuridão Mas eu estava alegre Pois matei a solidão Que feria e maltratava Meu pobre coração.
Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 29/09/2007
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