A Voz da Poesia

Biblioteca da Literatura Popular (Cordel)

Textos

Parnaíba e Poty duas vítimas inocentes
Parnaíba e Poty
Um do outro afluente
Nascidos em dois estados
Formam uma só corrente
Seguindo o mesmo destino
Um do outro conseqüente

Na serra da Ibiapaba
No lugar Pau-cheiroso
Nasceu o  rio Parnaíba
Forte  e torrentuoso
Servindo a três estados
Por natureza formoso

Rio Poty no Camucin
No estado do Ceará
Corre como outros rios
Jenipapo e rio Longá
Gameleira e Surubim
Se despejam para lá

Aqui juntam-se os dois
Seguindo o mesmo plano
Uma dádiva de Deus
Alentando o gênero humano
E juntos prosseguem
Vão cair no oceano

Eram a riqueza do pobres
De todo este sertão
As suas águas doces
Com grande povoação
Peixes de várias espécies
Dos pobres o ganha-pão

Os dois estão doentes
Suas águas infectadas
Os despejos da cidade
Em suas águas jogadas
Os seus leitos entupidos
E suas margens rasgadas

Vai morrendo o "Velho monge"
Que Da Costa e Silva cantou
Com ele o rio Poty
Que o povo explorou
Nada fez por eles
Pelo que deles tirou

As águas do rio Poty
Perderam a cor natural
Não servem para o consumo
Nem pra limpeza geral
Quem delas beber um pouco
Na certeza vai passar mal

Os peixes que existiam
Estão desaparecendo
Os que ainda resistem
Aos poucos vão morrendo
Da sujeira que recebem
Suas águas estão fedendo

Da barragem para cima
Ele ainda está vivendo
Mas de lá para cá
Suas forças estão perdendo
Por falta de cuidados
Já está quase morrendo

A campanha da fraternidade
Nos serve como alerta
Se falta água nos rios
A terra fica deserta
É como estar vivo
E a sepultura aberta

Faltando água nos rios
Vidas vão se dizimando
A começar pelos peixes
As aguadas secando
Com a terra ressequida
A vida vai se acabando

As nascentes dos rios
Devem ser bem protegidas
E as suas margens
Com plantas revestidas
E limpando seus leitos
Conservando suas vidas

Os homens entopem os rios
Os lagos são aterrados
Cortam os percursos dos rios
Novos lagos são formados
Os de cima ficam com vida
Os debaixo aniquilados

Meu peito estala de dor
Meus olhos estão chorando
As lagrimas que vão caindo
Para eles vão rolando
São poucas quase nada
Sua morte lenta chegando

O  que  eu falei no começo
vai ficar nas suas mentes
Parnaíba e Poty
há muito estão  doentes
do progresso e do povo
duas vítimas inocentes

se este rio morrer
seu leito for soterrado
eu chorarei de desgosto
prefiro ser desterrado
e se isto acontecer
quando morrer quero ser
no seu belo leito enterrado


Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 20/04/2007
Alterado em 14/05/2007
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