HOMENAGEM A TERESINA MENINA MOÇA
AGRADEÇO a musa santa Por ter me inspirado De retratar Teresina Como um dever sagrado Dar prova de gratidão Com a alma e o coração E relembrar teu passado Ao povo piauiense Quero pedir permissão Ao falar de Teresina Na alma sinto a emoção Sou teu filho adotivo Eis aí o motivo Te amar de coração Tu cresceu bela e formosa Para baixo e para riba Dois rios de água doce O Poti e o Parnaíba Lá no teu litoral Tem a Pedra do Sal O Delta do Parnaíba A praia de Atalaia Com encantos de realeza Vai a tua juventude Completar tua beleza Vai assim o teu povo Tanto velho como novo Contemplar a natureza Como sou muito grato Isso desde criança Quero falar de ti O que tenho na lembrança De ti ó Teresina De quando eras menina Com amor e esperança Eu nasci no Ceará Quis assim o destino Traçando minha sorte Vim para cá pequenino Aqui fiquei morando E contigo namorando Ainda como menino Desculpas peço a ti E a teus filhos também Eu te amor e te adoro E te quero muito bem Lá na praça Saraiva Era onde eu brincava Quando menino também Te prestando este culto De amor e gratidão Falando em teus filhos Me encho de emoção Da tua filha querida E por muitos esquecida A Maria Sapatão Uma velha preta e gorda Pelas ruas andava Com um chiqueirador E aos cachorros surrava Uma faca na cintura Aquela preta criatura De casa em casa entrava Com um vestido de chita Saia larga e comprida Gostava das crianças De todas era querida Nobre e fiel criatura Na minha literatura Jamais será esquecida O Peru um velho cego Moreno e muito comprido De esquina em esquina Fazia grande arrulhido Fazendo gluru glu glu Como o grulhar do peru Era muito parecido Com sua mão aberta O seu pão mendigava De uma esquina a outra De vez em quando gritava E recebendo uma esmola Punha em sua sacola E assim continuava O afamado Pedro Toco Metido a valentão Tinha um braço cortado Ele só tinha uma mão Quando bebia aguardente Ficava muito valente Era grande a confusão Tinha o Chico Danouce Um pobre enlouquecido Tinha a mente atrapalhada E andava mal vestido Se um cigarro lhe dava Dava três pulos e gritava Era muito divertido Andava de rua em rua Sempre perambulando Horas estava sentado Cuspindo e resmungando Quando alguém ele via Um cigarro lhe pedia Ali ficava fumando Morreu sem vela e sem luz Triste desventurado Sem uma mão amiga Por todos abandonado Foi um morte singela A lua serviu de vela E só por Deus foi velado Lembra-me trinta e seis Lá na frente do mercado Todo o exército nas ruas Soldado no chão deitado Outros de armas na mão Se arrastando pelo chão E fuzis ensarilhado Revolta dos comunistas Por ganância de poder Carlos Preste comandava Mas sem aparecer Mas tropas sem comandante Não podem ir avante E seu destino é perder É sempre o que acontece Com tropas mal comandadas E o presidente Vargas É quem dava as coordenadas A coisa se tornou feia O Prestes foi para cadeia E muitas mortes evitadas O exército abafou A intentona comunista Muitos foram para cadeia Outros ficaram na lista E da tal revolução Restou a recordação E a perda da conquista Recordo o Polinário Um mulato trigueiro Um velho meio tresloucado Dizia ser sanfoneiro Andava lá pela zona Tocando um sanfona E também no Cajueiro E por falar na zona Lá na rua Paissandu Casa de mulher alegre Nos tempos de Marilu Existia a Rosa Banco Toda vestida de branco E gorda como um enxu Tinha ao Bamba da Zona Um persona afamado Por nome Simplício Mendes Era em direito formado Moreno forte e viril Da zona e do mulheril Era o bamba chamado Vindo de Miguel Alves Seu pai era fazendeiro Era senhor de engenho Potentado em dinheiro Era pessoa querida Com firma reconhecida Por esse Brasil inteiro Seu pai era bem alvo Sua mãe era crioula Ela cuidava da horta Pimentão quente e cebola Ele na agricultura Fazia grande fartura Não era pessoa tola Indo para Universidade Formou-se doutor Simplício Grande na literatura Maior foi o sacrifício Deixar a casa da roça O homem de mão grossa Para viver em edifício Na capital de Recife Fez curso de bacharel Ilustrado em Massagana Colocou o seu anel E na terra de Mafrense Na capital piauiense Desempenhou seu papel Chamou-se de Bamba de Zona Político respeitado Como Desembargador Sempre bem considerado Não gostava de mutretas Na academia de letras Era um peso pesado E era assim Teresina Essa querida cidade Com toda dignidade Coroada de figueira Bonita e bem enfeitada Muito bem movimentada Lá no Parque da Bandeira Cheio de encantos mil No verdor da primavera Gostava como tu era Quando ainda menina As saudades me consome E assim recebeste o nome De Sinhazinha Cristina Na linda praça Saraiva Tinha pés de sabonetes Com varas era os foguetes Para furar os balões Soltos em honra e louvores A Santa Virgem das Dores No auge das louvações Do Conselheiro Saraiva Revendo seus croquis Fez-se o sine São Luiz E o cinema Roial Na praça Pedro II Se alegrava todo mundo Brincando o carnaval O Teatro Municipal Como eu ainda me lembro Hoje o Quatro de Setembro Centro de divulgação Espetáculo de cultura A nossa literatura No estilo do sertão Como é belo cantar Teu passado risonho Para mim foi um sonho Do qual eu vivo a lembrar Na Marechal Deodoro Onde sentado eu imploro Ver o Bondinho passar De lembrança tinha o trilho Que também já arrancaram A escola também tiraram Lembro disso com amor Hoje nem escola nem trilho Meus olhos perdem o brilho Agora choro de dor E eu ainda menino Nas ruas sem calçamento Não tinha água encanada Se carregava em jumento Em latas ou ancoretas Nas praças tinha retretas Sem estátua ou monumento Eu louvo épocas passadas Porque fazem a história De coisas interessantes Que mostram a trajetória De pessoas importantes Que hoje estão distantes Nos colorindo a memória Nas praças os coretos Onde a banda tocava Tinha bancos de cimento Onde os velhos se sentava Para ouvir as serestas Seus corações em festas Como criança chorava E no passeio da praça Casais de jovem girando Nas sombras das figueiras Outros casais se beijando Enquanto a banda tocava A criançada ficava O Coreto rodeando Hoje te vejo mudada Te relembro outrora Com semblante de menina Mais parecia Senhora Hoje quanto mais cresce Teu rosto se escurece Perde o alvor da aurora Lembro não imaginavas Mais parecia princesa Crescestes, ficastes moça Com respeitosa nobreza Minha linda Teresina Tu de Tereza Cristina Recebestes a realeza Nas águas do velho monge Eu vi vapor apitando Vi o avião condor Nas suas águas pousando Hoje nem balsas ou vapor Nem mesmo o velho condor Nunca mais o vi voando E o cabeça de cuia Que é parte de tua lida Um filho mal criado Que da mãe tirou a vida Num monstro se transformou No Rio Poty se afogou Como uma coisa perdida Dizem que sua madrinha Botou-lhe a maldição Enquanto ele vivesse Só alcançava a salvação Se onze virgens se afogar Se consegui-las salvar Alcançará seu perdão Eu creio que se salvou Porque ninguém mais o viu No Poty não se encontra Do Parnaíba sumiu Talvez foi pro oceano E por ser ele humano No mar se sucumbiu Uns dizem que é verdade Outros dizer ser mentira Eu não sei quem inventou Nem sei de onde se tira A história foi contada Não sei se foi inventada Se é verdade ou mentira Lenda fato ou história Correu de boca em boca Como a Não-se-Pode Que parecia ser louca Eu conheci a Sapatão Come-Gente e Cabeção O Peru e Pedro Touca Lembro a Igreja das Dores Com o repicar do sino Em épocas distantes Quando eu ainda menino De uma pessoa estimada Por todos admirada O Bispo Dom Severino Já velhinho e cansado Mais um grande pregador Que da Igreja de Deus Foi autentico defensor O Evangelho pregava Para todos explicava A palavra do Senhor Ao recordar não posso Um grande vulto esquecer O monsenhor Chaves E a Deus agradecer O seu trabalho fecundo Para a salvação do mundo E a Deus oferecer Um arauto fecundo E um grande escritor Recebeu do Santo Espírito A mensagem do Senhor A graça e a sabedoria Que ao Piauí daria Sua profissão de amor Um pregador da palavra Um seguidor de Jesus Com seu exemplo ensinou Como se abraçar à cruz Com sua Santa humildade Com a fé e a caridade E do Evangelho a luz Não sei como exaltar O tudo que ele mereça Me falta a expressão Que exulte e enalteça Como não sei exprimir A Deus eu vivo a pedir Que graças do céu lhe desça Tudo que estou falando Faz parte do meu passado Embora hoje presente Mas já velho e cansado Escrevo essa história Para ficar na memória Dos que não viram o passado De Domingos Jorge Velho Martins Afonso Mafrense Do Conselheiro Saraiva Da capital Oeirense Que aqui te fez menina Com o nome de Teresina A Capital de Mafrense Nasceste no Poti Velho Para depois se mudar Para Chapada do Corisco Tu começou a andar E levantando parede Teu nome cidade verde Vivo contente a cantar Chapada do Corisco De carnaúba e cocais Pequizeiros e Tamboris Mulungus e Cajuais De teu passado de glórias Restam para tuas histórias Muitos pés de mangueiras De teus filhos imortais Arauto e justiceiro Leônidas de Castro Melo Valdir Gonçalves Ribeiro Professor de grande porte Teu filho Clemente Fortes O teu fiel pioneiro Antonio da Costa e Silva Teu filho mais importante Acadêmico em direito Na poesia um gigante Com poemas geniais Cantou os canaviais Das terras de Amarante O tenente Landri Sales Teu nobre governador De eras mais remotas Grande vulto de valor E Sigefredo Pacheco Seu irmão Cláudio Pacheco Que também foi senador Cláudio formado em direito Sigefredo em medicina Tu viçava pra ser moça E ainda era menina Com teus sonhos e encanto Eles te amavam tanto quanto Eu te amo Teresina Filho de outras plagas Sou do sertão cearense Mas cresci e me criei Em solo piauiense Para te engrandecer Feliz eu posso dizer Sou da terra de Mafrense Memoriar teus filhos Com palma e Capela Padre Joaquim Nonato E Acelino Portela Dois santos companheiros De Deus dois mensageiros De almas pura e singela Acelino meu confessor Na primeira confissão Limpando minha alma Recebi o meu perdão E das mão de Acelino Recebi o pão Divino Na Sagrada Comunhão Na catedral do amparo Padre Nonato morreu Seguindo a Jesus Cristo Sua vida ofereceu Já velhinho e cansado Para os céus foi levado Pois como santo viveu E viveu muitos anos Numa vida sem entraves Encerrando sua missão A Cristo entregou as naves E por Deus foi acolhido E o feliz escolhido É hoje o Monsenhor Chaves Hoje já não se houve Os dobrados funerais O repicar dos sinos Das nossas três catedrais Que avisavam o momento Do fim ou sepultamento Dos nossos triste mortais E nunca mais se viu Seja quarta ou sexta-feira A banda lá na praça Para tocar a retreta Nem um baião de viola Nem doce de carambola E nem bombons de chupeta Lembrei-me agora mesmo Um fato estarrecedor Quando Dr. Landri Sales Era o governador Foi um caso divertido Foi preso e substituído Pelo cabo amador Isso no tempo de Prestes Cavaleiro da esperança Da coluna de vingança Isso a primeira intentona Como falei para vocês Isso em trinta e seis O que levou a tona São pequenos detalhes Da vida de Teresina Quando pouco falava Por ser ainda menina Quando menino eu era Tinha sete primavera Brincando ali na esquina E quando se é menino Tem no mundo o futuro Tudo é um mar de rosa Se brinca e salta muro É vasta a nossa esperança E no pensar de criança Tudo é perfeito e seguro E por falar em seguro Houve um tempo de tudo Que me Teresina sofria Aleijado cego e mudo Na queimada das casas Desejamos criar asas E daqui fugir com tudo Culpam o governo e polícia Mas ninguém tinha certeza Outros culpam os políticos Usando de esperteza Eles faziam o jogo As casas pegando fogo Era demais a tristeza A classe média e pobre Era a que mais sentia Fosse tarde ou noite Pra todo lado corria O fogaréu se espalhando Casas e bens devorando Até criança morria Seja pro norte ou pro sul Ou no centro da cidade Prende um e solta outro Era grande a crueldade E quem o fogo assistia Sabendo nada dizia Temendo a perversidade Queimava rua por rua E ainda se anunciava O dia, hora e minuto Que o fogo começava E se pensando bem Nunca se sabem quem O incêndio comandava Foi uma tragédia negra Vergonha triste e rude E Teresina já gozava Seus dias de juventude A justiça tomou conta Até hoje não aponta O autor dessa atitude Na década de quarenta Foi grande o desmantelo No tempo que a mulher Não cortava o cabelo Tinha o vestido comprido E respeitava o marido Com carinho, amor e zelo A tua história é longa A tua vida também És rica e eu sou pobre Mas tudo que você tem Faz parte do meu passado Hoje velho e cansado Te amo e te quero bem Hoje és Rainha Com ruas e avenidas Prédios de dez andares Com coquetéis e bebidas E teus filhos aumentando E Deus te abençoando Hoje tem milhões de vidas Hoje não tem veredas São ruas bem alinhadas Com praças e passeios E com vistas decoradas Com muitas jovens bonitas Que cantando te agitas Dando lindas gargalhadas Tu continuas crescendo E os que vão chegando Tu conquistas e seduz Eles aqui vão ficando E se alguém vai embora Tu tristes também choras E eu lamento cantando Lembras o velho Trapicho Perto da fiação Chamado de cai n’água Por toda população Quem por ali passava Corria ou apanhava No meio da escuridão A turma de porcos d’água Velhos carregadores Valentes como queixadas Eram dali os terrores Quando a polícia chegava Corriam e se trancava Dentro dos velhos Vapores A polícia esperava Eles de lá não saíam As vezes caíam n’água Dali desapareciam A polícia vigiava Aos poucos se retirava E eles não apareciam Assim o velho Trapicho Foi um palco de horror Muitos perderam a vida No trapicho do terror Uns eram assassinados Outros morriam afogados E faziam-se temor Mas o tempo foi passando E Teresina crescendo O povo foi se civilizando Num novo mundo vivendo E tudo foi renovado Com o trapicho acabado O povo foi esquecendo Lugares não esquecidos Como bem o cajueiro A Piçarra e o Porenquanto Na Vermelha o Piquizeiro Em cada bairro um valente Cabra de sangue quente Valentão e bagunceiro Na ponte do Mafuá E também no Barrocão Ponto de esconderijo De caboclo valentão E quem por ali passava Na certa ele apanhava De chicote ou cinturão Tinha bairro assombrado Nas noites de escuridão Porca de preza de ouro Seu companheiro um varão À noite ninguém andava Aquele que se arriscava Via grande assombração E era assim Teresina A menina que crescia Entre dois rios famosos Seus habitantes subia Seus valores aumentando E seus poetas cantando Teus sonhos e fantasia Fostes menina e és moça Viçando para ser mulher Cada vez mais graciosa Todos te adoram e te quer Eu quero te exaltar E nos meus versos cantar Fale de ti quem quiser Tinha um certo ditado Que relembra-lo convém Quem come tuas piabas Bebe tua água também Mesmo daqui se mudando Termina sempre voltando Pois só aqui se dá bem Te agradeço Teresina O sentimento emotivo Teus braços afetuosos Me servem de incentivo Recebo com emoção Tua prova de gratidão Do amor o lenitivo Receba da minha parte Da gratidão a semente Plantado no coração Do teu solo a tua gente Eis aí o meu motivo Ser teu filho adotivo Puro, simples e consciente 77 primaveras Uma longa trajetória Com um passado de luta Uma comprida história É uma vida vivida Uma batalha vencida Entre derrota e vitória Nem o tempo nem a vida Me esvaziam totalmente O coração deste filho Que te ama loucamente E se tu queres saber Gritando eu posso dizer Eu amo a ti somente Foste minha coleguinha Minha feliz namorada Fostes tudo no meu ser No meu tudo no meu nada Vivi sempre em teu solo Quero morrer no teu colo Teresina mãe amada A tua história é longa E em tudo eu não falei Quem sabe em outro verso Que ainda escreverei O que aqui não foi dito E o que não foi escrito Noutro verso cantarei O passado descoberto Na Serra da Capivara Um mundo arqueológico E que ali se guardara Dando o dito por cento Se o que ali descoberto Já nos representara O banho na Cachoeira Na Serra do Urubu As festas e vaquejadas Nas caçadas de tatu As tuas tardes vermelhas Nas casas de abelhas As tiradas de enxu As corridas de canoas Para o bairro Poty Lá onde tu nascestes Depois viestes para qui Coisas que se passaram E que outros não cantaram Hoje eu canto para ti As festas dos Marujos Que José Prego fazia Era bastante animada Que bonita fantasia E aquela marujada De marinheiro enfeitada Comandava a alegria E o boi do Passarinho Todo ano apresentado De todos bumba meu boi Era o mais convidado Fazer apresentações Em terreiros e salões Foi sempre o mais premiado Bendigo a Deus por isso E sigo feliz na vida Zelo pelo teu nome Espero vencer a lida Reconstruindo a história Retribuindo a vitória A essa terra querida. Fim. (Extraído do livro "Reminiscência e Lições de Vida", do Poeta José Bezerra de Carvalho (Zé Bezerra), páginas 09 a 20, publicado em 2006, pela Gráfica Editora Rima - Teresina - Piauí - Brasil.)
Zé Bezerra o Águia de Prata
Enviado por Zé Bezerra o Águia de Prata em 06/04/2007
Alterado em 06/04/2007 Copyright © 2007. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |